Poema

Poema de Inauguração
(Solange Fischer Bernardino & Roseni Kurányi)

Porque “ Hora de Poesia” alguém vai perguntar
E com algumas rimas tentaremos responder.
Duas primas de Petrópolis jamais iam descansar
Até a hora de ver esse projeto nascer.

Ao chegarmos à Alemanha, era como uma ilha
Pois tudo era estranho, sem um laço de família.
Enquanto eu nos alpes, lá no sul, fui morar
Eu, a charmosa Stuttgart escolhi para habitar.

Foi há dez anos atrás quando tudo começou:
Marido foi para o trabalho, os filhos para a escola
Meu peito desavisado a solidão encontrou
Pois pra língua que eu falava, aqui ninguém dava bola

Pra mim não foi diferente, entretanto,
O branco da densa neve que encontrei
Encheu meu coração de encanto
Que sem culpa ou vergonha desfrutei.

Enquanto eu refletia por aqui o que fazer
Lembrei-me de sorrateiro, a prima também viria
Foi um sopro de felicidade que eu tive, ao saber
Que ela não só chegara, como logo apareceria

Trocamos abraços e começamos a falar
Conversamos sobre a vida e o quanto é duro
Começar vida nova e projetar o futuro
Sem perder o senso nem deixar se abalar.

Com taças cheias, o encontro foi brindado
Promessas de amizade refeitas e seladas
No silêncio da noite, sentadas lado a lado
Falamos de sonhos, preferências e pecados.

Muitos gostos em comum descobrimos
O que nos levou logo a pensar
Fazer algo juntas é nosso destino!
Gritamos em uníssono para encerrar.

A conversa entretanto, por aí não parou.
Diante de taças vermelhas de vinho
O papo gostoso a madrugada adentrou
Até acreditarmos ter achado um caminho.

O efeito do álcool anuviou a claridade
Quem sabe o vinho nos mostrou a verdade...

Muitos livros, romances e poemas
Tinham sido até agora o grande tema.
Literatura é sem dúvida nossa paixão
Por que não fazermos dela o nosso lema!
O papo, então, enredou nessa exata direção.

Já que acabávamos de descobrir
Algo que nos daria mútua satisfação.
Agora, em paz podíamos ir dormir.

Sonhei naquela noite e me entreguei a fantasia
Já sei! Disse ao acordar, um sarau de poesia!
Um encontro de pessoas com a mesma simpatia!

Tanta coisa aconteceu e o tempo se escoou
Crescemos interiormente, assim como a amizade
Realizamos coisas outras e o sarau não se formou
Mas jamais ficou de lado a nossa cumplicidade

Foi assim, que num tempo bem recente
Ceifando de nossas famílias pessoas adoradas,
O destino, esse malvado, brincou com a gente.
Deixando em seu rastro uma dor desesperada.

O vazio que ficou, juntas tentamos trabalhar
Com as taças de vinho vazias noite adentro.
No peito apenas a vontade de chorar
E de nos afastar de tanto sofrimento.

Embaladas pela dor, relembramos nossos planos.
Um estímulo precisamos para continuar a viver.
Aquilo que nos propusemos desde longos anos
Devemos sem demora fazer acontecer.

É mais que tempo, está mais do que na hora
De criar nosso sarau, tem que ser agora!

Um encontro descontraído com amigos,
Pessoas sintonisadas, com alguma inspiração,
Dispostas em conjunto vivenciar literatura,
Trocar experiências no calor da emoção.

Falar de livros, contos, crônicas do dia a dia,
Alimentar a alma, interessantes coisas criar.
Brincar com as palavras e se embalar na fantasia,
Nos envolver e nossa alma deixar acalentar.

Um nome sugestivo procuramos inventar.
Já sei, Roseni, que tal Hora de Poesia?
Por que não? - disse sem pestanejar.
É sonoro, gostoso de ouvir e de falar
Tem tudo a ver com essa nossa ousadia.

Assim sendo, respeitável público,
Aqui estamos para lhes apresentar
“Hora de Poesia”, um espaço à vontade
Para cada um dos presentes desfrutar.