28.10.2008

Crônica - I

A Inauguração

Por Solange Fischer Bernardino

Era final de tarde e uma ponta de nervosismo dominava os corredores do prédio no bairro industrial de Leinfelden, nas redondezas de Stuttgart, e que em breve sediaria a inauguração do Hora de Poesia. Roseni e eu corríamos de lá para cá, dando os últimos retoques e tentando não pensar numa eventual possibilidade de fracasso de nosso evento. Apesar da boa divulgação feita, o local não era muito central e temíamos que as pessoas tivessem dificuldade de chegar lá.

Além disto, será que alguém realmente se deixou contagiar pela idéia proposta, mesmo que fosse por curiosidade? A pergunta pairava no ar o tempo todo e nos deixava inquietas.

Seja como for, já nos daríamos por satisfeitas se pelo menos uma pessoa aparecesse. E para descontrair o ambiente, Roseni permitiu-se uma heresia citando Jesus Cristo, no Evangelho de S. Mateus: “...onde dois ou três estão reunidos em meu nome...” Risos.

Heresias à parte, fato é que, embora não estivéssemos esperando uma multidão, nossa pretensão ia além de duas pessoas, pois afinal de contas “duas” nós já éramos e o que desejávamos era exatamente abrir o leque e nos tornarmos um grupo.

Sentamo-nos na ampla e aconchegante sala, decorada com todo o zelo para a ocasião, para repassar uma última vez nosso texto. Nas paredes, as irreverentes pinturas de Kont Kurányi, que nos emprestou carinhosamente o espaço, e que também estava lá para nos prestigiar. Ainda não tínhamos chegado ao final, quando fomos interrompidas pela chegada do primeiro convidado, ou melhor, convidada, seguida, em poucos minutos por mais dois e sucessivamente mais alguns.

O evento foi finalmente aberto, com a leitura emocionada do “Poema de Inauguração” (também postado aqui), que escrevemos a quatro mãos exclusivamente para o dia. Expostos os objetivos do projeto, brindarmos com os convidados o, para nós, tão ansiado momento e entre um snack e outro, deixamos-nos deleitar pela participação ativa dos presentes.

Vinícius de Morais – inesperada estrela da noite

A comemoração, este ano, do centenário de Machado de Assis, inspirou Fernanda Schumacher, que resolveu homenageá-lo com a leitura belamente interpretada do poema “O casamento do Diabo”.

Não era noite de Vinícius de Morais nem nada, mas o imortal poeta foi coincidentemente rememorado por dois participantes do encontro. Primeiro por Suely Loewe, que declamou “Soneto da Juventude” e mais tarde por Dalcila Devantiê que desejou a leitura do “Soneto da Fidelidade”, que acabou sendo declamado por mim.

Fernando Pessoa se fez presente através de Ademir da Silva, com a bela leitura do poema “Não Tenho Pressa”. A versão alemã do mesmo poema, “Keine Eile”, foi interpretada por Davi Devantiê, numa iniciativa espontânea e simpática de criar um ambiente mais alemão diante dos integrantes da banda „Die Ludwigsburger Domsaxer“. O quarteto de saxofonistas, que ensaiava no prédio exatamente naquela hora resolveu nos presentear com uma pequena canja, tocando para nós a lendária “Garota de Ipanema”, seguido de uma calorosa salsa e um blues. Um presentão!

A leitura do conto “O Dia de Halloween”, que escrevi motivada pelo tópico “Dinâmica”, criado por Fernanda Schumacher na “Comunidade Brasileira em Stuttgart” do orkut, acabou dando uma pitada de suspense que ainda faltava ao encontro.

A hora passou tão rápido, que quase íamos perdendo a chance de conhecer o inspirado texto “O Tradutor”, escrito por Daniel Estil e lido com admiração pela colega tradutora Bete Köninger.

Na hora de ir para casa, alguns convidados não saíram de mãos vazias, pois tiveram a chance de levar emprestado livros, em parte novíssimos best-sellers, colocados generosamente à disposição por Roseni. Um de seus principais hobbies é comprar livros, combinado com a grande satisfação de compartilhar com amigos. Ela promete manter o hábito. Logo, mais um incentivo para aqueles que quiserem fazer parte de nosso grupo.

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